9.8.09

Carta de Miguelito a Mafalda

Encontrei pela internet, pedi ajuda para meu amigo Hellzito para traduzir e me emocionei com essa carta. Desconheço o autor, porém, quem tem um apego grande com nossa querida Mafalda também há de se emocionar. Peço desculpas desde já caso algum erro apareça no texto, tentei fazê-lo o mais simples possível. Enjoy ;)



Querida Mafalda:

Neste dia tão especial me lembrei do teu aniversário... Como o tempo passa! Nascemos no coração de um país que sonhava.
Quantas utopias! Quantos desejos de crescer, de melhorar as coisas!
Nos emocionou viver em um tempo de homens criativos: Luther King, Che Guevara, Juan XXIII, John Kennedy; nos trasmitiram o sentido da justiça, o valor dos sentimentos, a maravilhosa aventura de pensar com a própria cabeça.
Ontem me perguntava por nossa amiga Liberdade, aquela pequenina que um dia você encontrou em uma praia, não me lembro se era Santa Teresita ou Mar de Tuyú, me lembro ainda quando a apresentou a seus pais... Era viva e queimadinha pelo sol de fevereiro. Onde vive Liberdade? É verdade que a mataram durante a ditadura? Dizem que a torturaram e seu corpo desapereceu no "Rio de la Plata"... Me custa pensar que morreram todos seus sonhos. E se estiver viva? Estará filosofando sobre a fragilidade das coisas e o sentindo da vida?
O que aconteceu com Susanita? Se casou? Pôde realizar sua vocação de ser mãe? A imagino vivendo em uma cidade do estado, passeando de braço dado com o marido (um homem baixo e calvo) em uma tarde de verão, feliz com seus filhos e cuidando do primeiro neto, realizada como tantas mulheres comuns.
Soube de Manolito, que perdeu suas economias durante o corralito* e não suportou tanta crise! Em seus últimos dias o viram cabisbaixo, murmurando palavras incoerentes, abandonado como um mendigo em uma estação de trem, triste e abatido como tantos...
Sei que Felipe vive em Havana, que tentou o cinema, que tem um táxi e que fala de Fidel aos turistas e da revolução com o mesmo entusiasmo de quando vivia em Buenos Aires...
Guille, seu irmão, o ouvi tocar, a pouco tempo, na "La Scala de Milano"*. Vive em Genebra, nunca se arrependeu de ter emigrado nos últimos anos de Alfonsin, me contou que é feliz com sua nova parceira...
E você, querida amiga, como está? Faz tanto tempo que não tenho notícias suas. Sei, por outros, que segue escutando rádio, que lê os jornais do mundo, que te magoa o Iraque como magoava o Vietnam, sei que trabalha para a "FAO"* pelos povos famintos, que está indignada com a prepotência de Bush. Recebi seu pedido para juntar medicamentos para os "Médicos sin Fronteras"*, sei que continuam as reuniões em sua casa em Paris, que está confusa, inquieta e preocupada com o futuro do mundo.
Enfim, Mafalda, sei o suficiente para saber que continua viva, viva na alma, criança como sempre... Da minha parte, sigo escrevendo sempre, renegado porque me falta tempo; crescendo, como sempre, no valor da sinceridade, perdendo oportunidades por manifestar minhas idéias. Alguns dias estou triste e deprimido, mas sempre pode mais a alegria que a tristeza... O mundo não melhorou muito desde a época em que vivíamos juntos em nossa pátria. Às vezes, quando vejo o globo terrestre encontro teu o olhar, penso em todos aqueles que olharam como você, nos olhos dos que protestam, dos que não se conformam, e dos que vivem na atmosfera do otimismo e da justiça... Esses olhos, juntos aos meus, te desejam um bom dia, querida amiga, por outros 40 anos tão intensos e jovens como aqueles que viveu.

Um beijo grande de seu amigo que te ama como sempre.

Miguelito.

*corralito - é o nome informal de uma restrição às extrações de dinheiro em efetivo de prazos fixos, contas correntes e poupanças imposta pelo governo de Fernando de la Rúa em dezembro de 2001.
*La Scala de Milano - uma das mais famosas casas de ópera em Milão, Itália.
*FAO - sigla de Food and Agriculture Organization (Organização para a Agricultura e a Alimentação), agência especializada da ONU
*Médicos sin Fronteras - Médicos sem Fronteiras é uma organização internacional não-governamental sem fins lucrativos que oferece assistência à saúde, em casos como conflitos armados, catástrofes naturais, epidemias, fome e exclusão social. É a maior organização não governamental de ajuda humanitária do mundo, na área da saúde.

30.7.09

Sem Título

Depois de sair de um longo dia de trabalho, ela resolve dar um passeio para tentar esquecer os problemas do cotidiano. O céu com um tom meio avermelhado dá uma nostalgia e o coração dela não sabe se ri ou se chora. Coisas do passado - não mais uma ferida recente - vêm à tona, apesar de cicatrizados. "Apenas ontem você mentiu", essa frase martelando na cabeça e memórias que ela não entende ou não tenta entender ou simplesmente não quer entender, mesmo que inconscientemente. A maior dor é a dor de um coração partido, onde, naquele longínquo passado ela teve alguém que foi significante para ela e, apesar de sentir-se importante para aquele alguém, sabia que era ninguém para esse alguém.
Os passos foram ficando mais lentos, porém, mais largos. O sol avermelhado já havia ficado num tom azul cor de céu quando o sol acaba de se pôr e os pássaros já estavam calados, não se ouvia nada além dos carros passando e buzinando, com sua poluição nojenta. "Eu tentei", ela repetia para si mesma, como se redimisse de um delito que não cometeu. Sentia-se como um bicho estranho, uma aberração, pois parecia que naquele momento o mundo inteiro olhava para ela. Sentou-se na mesa de um bar, pediu uma dose de whisky com energético enquanto olhava para o céu, vendo o universo girar em torno dela. Pagou a conta, comprou três chicletes e continuou a andar. No Viaduto do Chá - lugar perigoso à noite, mas ela precisava passar por ali para voltar para sua casa - encontrou um rosto em prantos. "O que aconteceu?", ela perguntava, mas esse rosto nem tentava falar algo, apenas continuava a chorar e a chorar e ela começou a ficar desesperada (desespero interno, claro, o desespero apenas deixa terceiros mais nervosos) e esse rosto olhou para o rosto dela, bem nos olhos, como se conseguisse enxergar sua alma e perguntou se ela seria capaz de mudar a vida de um estranho e ela respondeu que não sabia, talvez e o rosto falou que estava cansado e que ela poderia mudar a vida dele e ela perguntou como e ele falou que se ela olhasse bem no fundo dos olhos dele, assim, ela conseguiria ver o que havia acontecido.
Como num passe de mágica, ela compreendeu toda a situação e, na boca do rosto, deu um beijo. Ele agradeceu e ela retomou seu caminho de volta para casa. Quando completou exatos 25 passos de distância, olhou para trás. Tarde demais, o rosto e o resto do corpo já havia encontrado o chão.



Que medo desse texto... Achei jogado numa pasta do meu computador, a única coisa que lembro é que no momento que escrevi estava ouvindo "Interstate Love Song", do Stone Temple Pilots. Uma música muito boa, por sinal. Recomendo.

12.7.09

Um desabafo patético e nojento

Talvez as coisas tivessem mesmo que ser assim, desse jeito, sem tirar nem pôr. Talvez eu tenha mesmo que passar madrugadas chorando ininterruptamente. Talvez as pessoas realmente tenham que enlouquecer. Ou talvez eu seja uma estúpida por me preocupar. Talvez seja melhor eu sumir desse ambiente que me cerca para tentar esquecer. Mas seria covardia a minha. Grande covardia.



"Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo."
Poema em linha reta - Álvaro de Campos

26.4.09

À sua espera


Não posso dizer que acordei da melhor maneira hoje. Não tive nem tempo de abrir os olhos e já estava lá, jogada naquela cama, chorando. Meus olhos arderam, e eu pressionava e aliviava. Mas as lágrimas não paravam de rolar. Tive tempo suficiente para despertar. Despertei, levantei como se estivesse em câmera lenta, olhei para o espelho e lá vi minha fronte refletida e inchada. Especialmente os olhos. Fui andando em passos longos e lentos em direção ao banheiro. Lá, deparei-me com minha horrenda fronte novamente. Escovei os dentes, lavei o rosto e fui imediatamente procurar por um cigarro. Não tinha. Respirei fundo e tomei uma dose de coragem para ir até a padaria. Em passos longos e lentos, eu andava. Olhando sempre para o chão e pensando no que aconteceria se. Ora, isso não mudará nada. Pensar em probabilidades é igual a zero. No máximo, quase nada. Um par de olhos azuis interrompe meu pensamento. "Bom dia", ele diz. "Bom dia", respondo. E continuo com meus passos longos e lentos. Chego ao meu destino, compro meus dois maços de cigarro. Vejo dois conhecidos - mas finjo não ver - e uso o velho truque da invisibilidade. Funcionou. Chego no portão de casa, olho para minha janela. Tudo parece tão morto depois que você se foi. Tudo. Ando por mais um quarteirão, sento-me, vejo as pessoas passando e começo a rezar para que você passe frente aos meus olhos também. Nada aconteceu, além de algumas lágrimas que caíram. Acendo um cigarro, ainda chorando e fumo-o, à sua espera. Uma espera inútil.

Volto para minha casa, deito-me no sofá e lá adormeço. Mais um dia.

24.4.09

A Coisa

Três horas da manhã e ainda não consegui dormir. Amanhã terei de acordar cedo para trabalhar. Aquela coisa chata, patética e indigesta, sabe? Sei que vou chegar lá com uma pilha de coisas para fazer e meu chefe ficará gritando comigo, me apressando. A pressa. Ele ainda não parou para pensar que eu também tenho pressa? Meu trabalho e meu chefe não importam nessa hora.

Só consigo pensar naquela coisa.

Aquela coisa que me tirou o sono nessa madrugada fria e serena. Parece ser uma noite perfeita para dormir, não para ficar aqui, compondo linhas tortas. Ouço um ronco medonho, deve ser o vizinho. É a primeira vez que presto atenção nisso. Ele não tem cara de ser uma pessoa que ronca. Pessoas que roncam têm uma generosa circunferência abaixo do peito e acima do órgão genital, usam bigodes estilo Freddie Mercury e tomam cerveja. Pelo que sei, ele não é nada disso. Mas, de qualquer maneira, sinto inveja dele. Porque agora ele dorme. Eu não.

Porque só consigo pensar naquela coisa que parece não chegar nunca.

Sinto uma ânsia, vinda de não-sei-onde. E percebo que nada é mais do que parece ser. Nada. Por exemplo: Se eu vejo um vaso, ele não é nada mais do que um vaso. Pode ser de vidro, de mármore, de concreto, de barro ou de ouro. Continua sendo um vaso e nada mais do que um vaso. Mas vasos não sentem e nem imaginam. Logo, sinto inveja dele.

Simplesmente porque só consigo pensar naquela coisa que parece não chegar nunca e talvez nem chegue.

Quatro horas da madrugada, meu Deus. E tenho que sair para trabalhar às seis. O jeito vai ser ficar aqui até algum sinal de sonolência aparecer. Celular tocando a essa hora? Quem será? Mensagem da operadora. E se eu estivesse dormindo? Eles teriam a cara-de-pau de me acordar? Que malditos! Lembrete mental: Jogar o celular na próxima avenida movimentada que eu passar.

Despertar. Escovar os dentes. Tomar banho. Cafeteira. Vestir-me. Ajeitar a gravata. Pegar a maleta. Tomar o café num gole. Deixar cair na camisa limpinha.

Droga.
Agora vou ter que trocar de camisa.



P.S.: Encontrei esse texto jogado no Google Docs, escrevi faz um tempão. Espero que gostem.

4.4.09

E enquanto isso, no lustre do castelo...

Muitas coisas acontecendo na velocidade da luz, mas meu desânimo e minha impossibilidade não me permitem segui-las. Mas tudo bem, eu supero!
Ontem foi um dia super legal, apesar de super simples. A Adriana perguntou para mim no msn se poderia vir aqui em casa, eu respondi que sim e chamei a Ark também. Ark não pode ficar muito tempo, inclusive foi embora antes de a Adriana chegar, mas estar com as duas é muito bom. E é bom ver que nossos amigos estão crescendo. Parece papo de velho, mas é gratificante ver que você fez e ainda faz parte da vida de uma pessoa e que vocês fizeram parte do desenvolvimento um do outro.
Como eu costumo dizer: "Tirando o que tá ruim, tá tudo muito bem".

Ah, fiz um Twitter, link ali do lado. Quem me linkar, avisa, que eu linko também.
Sem mais.



"Meus olhos vermelhos cansados de chorar querem sorrir." - Roberto Carlos

31.3.09

Post indignado

Ser humano é um troço muito ruim às vezes. Sentimentos... Isso vem da palavra sentir. Sentir nem sempre é bom. Não entendo a vida. Talvez seja melhor que não entenda mesmo, talvez surtaria.



"Quem vai ficar, quem vai partir?" - Raul Seixas

13.3.09

Ah, o amor...

É bom demais estar apaixonada, tinha até me esquecido como era ter um amor bem grande dentro de mim e ser correspondida. Músicas secretas, olhares que dizem tudo, ficar horas conversando sobre nada, essas coisas.
Chega até a ser engraçado, nunca esperei que quando entrasse naquela escola minha vida mudaria de uma forma tão brusca. Nunca passou pela minha cabeça arranjar um novo amor, até mesmo porque meu coraçãozinho já estava machucado o bastante para qualquer batimento cardíaco acelerado. Mas passou, ele se curou. Ainda há cicatrizes, claro, mas isso não é algo anormal.
Primeiro dia de aula. Eu, com um livro de literatura clássica nas mãos, capuz, morrendo de sono e desejando não estar ali. Uma menina sem noção (que, diga-se de passagem, tornou-se uma grande amiga) querendo falar comigo e eu apenas respondendo o que ela perguntava, sem dar grandes oportunidades para conversa. Um menino meio estranho sentou na minha frente, olhou para mim e começou a bater papo. Descobrimos vários gostos em comum, descobrimos uma amizade incrível. Em poucas semanas eu não conseguiria mais viver sem ele. Agora, depois de 1 ano nesse chove-e-não-molha, estamos juntos. E estamos felizes. Eu te amo, seu bobo. :D



"E até quem me vê lendo jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei." - Los Hermanos

26.1.09

A alegria - Ferreira Gullar



O sofrimento não tem
nenhum valor
não acende um halo
em volta de tua cabeça, não
ilumina trecho algum
de tua carne escura
(nem mesmo o que iluminaria
a lembrança ou a ilusão
de uma alegria).

Sofres tu, sofre
um cachorro ferido, um inseto
que o inseticida envenena.
Será maior a tua dor
que a daquele gato que viste
a espinha quebrada a pau
arrastando-se a berrar pela sarjeta
sem ao menos poder morrer?

A justiça é moral, a injustiça
não. A dor
te iguala a ratos e baratas
que também de dentro dos esgotos
espiam o sol
e no seu corpo nojento
de entre fezes
querem estar contentes.

9.1.09

This bird has flown

Hora de deixar o que aconteceu para trás e pensar no que acontece agora, passando frente aos meus olhos e o anseio, a vontade, a insegurança (sim, insegurança) vão me ajudar. Sempre entendi que o que aconteceu me fez ser o que sou hoje, mas o ontem não pode interferir em minhas decisões a partir do momento que ele passa a ser o ontem. Acredito que isso tenha ficado meio confuso, sentimentos são confusos e ninguém consegue explicar.
Você foi o sol que esquenta minha pele, você foi a chuva que molha meus cabelos. Chegou a hora de deixar de ser quase feliz e de quase deixar de ser triste. Hora de deixar de acreditar em ilusões e começar a ver as coisas mais claramente, deixando para trás essa venda que você colocou em meus olhos a partir do momento em que meu coração bateu mais forte por ti.
Você fez a minha carne triste quase feliz. De qualquer forma, agradeço.



"Quando você me quiser rever, já vai me encontrar refeita, pode crer. Olhos nos olhos, quero ver o que você faz ao sentir que sem você eu passo bem demais." - Chico Buarque