30.7.09

Sem Título

Depois de sair de um longo dia de trabalho, ela resolve dar um passeio para tentar esquecer os problemas do cotidiano. O céu com um tom meio avermelhado dá uma nostalgia e o coração dela não sabe se ri ou se chora. Coisas do passado - não mais uma ferida recente - vêm à tona, apesar de cicatrizados. "Apenas ontem você mentiu", essa frase martelando na cabeça e memórias que ela não entende ou não tenta entender ou simplesmente não quer entender, mesmo que inconscientemente. A maior dor é a dor de um coração partido, onde, naquele longínquo passado ela teve alguém que foi significante para ela e, apesar de sentir-se importante para aquele alguém, sabia que era ninguém para esse alguém.
Os passos foram ficando mais lentos, porém, mais largos. O sol avermelhado já havia ficado num tom azul cor de céu quando o sol acaba de se pôr e os pássaros já estavam calados, não se ouvia nada além dos carros passando e buzinando, com sua poluição nojenta. "Eu tentei", ela repetia para si mesma, como se redimisse de um delito que não cometeu. Sentia-se como um bicho estranho, uma aberração, pois parecia que naquele momento o mundo inteiro olhava para ela. Sentou-se na mesa de um bar, pediu uma dose de whisky com energético enquanto olhava para o céu, vendo o universo girar em torno dela. Pagou a conta, comprou três chicletes e continuou a andar. No Viaduto do Chá - lugar perigoso à noite, mas ela precisava passar por ali para voltar para sua casa - encontrou um rosto em prantos. "O que aconteceu?", ela perguntava, mas esse rosto nem tentava falar algo, apenas continuava a chorar e a chorar e ela começou a ficar desesperada (desespero interno, claro, o desespero apenas deixa terceiros mais nervosos) e esse rosto olhou para o rosto dela, bem nos olhos, como se conseguisse enxergar sua alma e perguntou se ela seria capaz de mudar a vida de um estranho e ela respondeu que não sabia, talvez e o rosto falou que estava cansado e que ela poderia mudar a vida dele e ela perguntou como e ele falou que se ela olhasse bem no fundo dos olhos dele, assim, ela conseguiria ver o que havia acontecido.
Como num passe de mágica, ela compreendeu toda a situação e, na boca do rosto, deu um beijo. Ele agradeceu e ela retomou seu caminho de volta para casa. Quando completou exatos 25 passos de distância, olhou para trás. Tarde demais, o rosto e o resto do corpo já havia encontrado o chão.



Que medo desse texto... Achei jogado numa pasta do meu computador, a única coisa que lembro é que no momento que escrevi estava ouvindo "Interstate Love Song", do Stone Temple Pilots. Uma música muito boa, por sinal. Recomendo.

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