24.4.09

A Coisa

Três horas da manhã e ainda não consegui dormir. Amanhã terei de acordar cedo para trabalhar. Aquela coisa chata, patética e indigesta, sabe? Sei que vou chegar lá com uma pilha de coisas para fazer e meu chefe ficará gritando comigo, me apressando. A pressa. Ele ainda não parou para pensar que eu também tenho pressa? Meu trabalho e meu chefe não importam nessa hora.

Só consigo pensar naquela coisa.

Aquela coisa que me tirou o sono nessa madrugada fria e serena. Parece ser uma noite perfeita para dormir, não para ficar aqui, compondo linhas tortas. Ouço um ronco medonho, deve ser o vizinho. É a primeira vez que presto atenção nisso. Ele não tem cara de ser uma pessoa que ronca. Pessoas que roncam têm uma generosa circunferência abaixo do peito e acima do órgão genital, usam bigodes estilo Freddie Mercury e tomam cerveja. Pelo que sei, ele não é nada disso. Mas, de qualquer maneira, sinto inveja dele. Porque agora ele dorme. Eu não.

Porque só consigo pensar naquela coisa que parece não chegar nunca.

Sinto uma ânsia, vinda de não-sei-onde. E percebo que nada é mais do que parece ser. Nada. Por exemplo: Se eu vejo um vaso, ele não é nada mais do que um vaso. Pode ser de vidro, de mármore, de concreto, de barro ou de ouro. Continua sendo um vaso e nada mais do que um vaso. Mas vasos não sentem e nem imaginam. Logo, sinto inveja dele.

Simplesmente porque só consigo pensar naquela coisa que parece não chegar nunca e talvez nem chegue.

Quatro horas da madrugada, meu Deus. E tenho que sair para trabalhar às seis. O jeito vai ser ficar aqui até algum sinal de sonolência aparecer. Celular tocando a essa hora? Quem será? Mensagem da operadora. E se eu estivesse dormindo? Eles teriam a cara-de-pau de me acordar? Que malditos! Lembrete mental: Jogar o celular na próxima avenida movimentada que eu passar.

Despertar. Escovar os dentes. Tomar banho. Cafeteira. Vestir-me. Ajeitar a gravata. Pegar a maleta. Tomar o café num gole. Deixar cair na camisa limpinha.

Droga.
Agora vou ter que trocar de camisa.



P.S.: Encontrei esse texto jogado no Google Docs, escrevi faz um tempão. Espero que gostem.

Um comentário:

#Eric Silva# disse...

Maldita rotina que destrói o ser!
Maldita vida que nos obriga a isso!
Maldito sentir que nos corrói!
Maldito ser humano que cria tudo isso sem saber o porque!