
Não posso dizer que acordei da melhor maneira hoje. Não tive nem tempo de abrir os olhos e já estava lá, jogada naquela cama, chorando. Meus olhos arderam, e eu pressionava e aliviava. Mas as lágrimas não paravam de rolar. Tive tempo suficiente para despertar. Despertei, levantei como se estivesse em câmera lenta, olhei para o espelho e lá vi minha fronte refletida e inchada. Especialmente os olhos. Fui andando em passos longos e lentos em direção ao banheiro. Lá, deparei-me com minha horrenda fronte novamente. Escovei os dentes, lavei o rosto e fui imediatamente procurar por um cigarro. Não tinha. Respirei fundo e tomei uma dose de coragem para ir até a padaria. Em passos longos e lentos, eu andava. Olhando sempre para o chão e pensando no que aconteceria se. Ora, isso não mudará nada. Pensar em probabilidades é igual a zero. No máximo, quase nada. Um par de olhos azuis interrompe meu pensamento. "Bom dia", ele diz. "Bom dia", respondo. E continuo com meus passos longos e lentos. Chego ao meu destino, compro meus dois maços de cigarro. Vejo dois conhecidos - mas finjo não ver - e uso o velho truque da invisibilidade. Funcionou. Chego no portão de casa, olho para minha janela. Tudo parece tão morto depois que você se foi. Tudo. Ando por mais um quarteirão, sento-me, vejo as pessoas passando e começo a rezar para que você passe frente aos meus olhos também. Nada aconteceu, além de algumas lágrimas que caíram. Acendo um cigarro, ainda chorando e fumo-o, à sua espera. Uma espera inútil.
Volto para minha casa, deito-me no sofá e lá adormeço. Mais um dia.